quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Metamorfose.


Sinal verde. Atravessei pra lá do sol.
Deixei pra trás mais um dia caminhando nesse calçadão com a maresia que toma todo o ar a minha volta.
Sobre minha cabeça uma metamorfose acontece enquanto o sol baixa timidamente a minhas costas levando consigo o calor de seus raios dando lugar à lua que subia imponente mais uma vez.
Ao meu redor as luzes artificiais começam a iluminar a cidade como uma miríade de estrelas no manto escuro do céu.
Lembrei-me dos antigos gregos que diziam que a deusa Nix atravessava os céus em uma carruagem conduzida por cavalos voadores e arrastando atrás de si presa em seu longo manto a noite que tomava conta dia. Peguei-me tentando imaginar a cena.
Que belo fim de tarde aquele.
Respirei fundo e continuei minha caminhada.
Passei lentamente por pessoas que de tão atordoadas em seus problemas não conseguiam ver a magnífica mudança sobre nós. Eu achava engraçado como pessoas passavam por lugares como aquele, sem ao menos notar o que há à sua volta.
É como se o ser humano se fechasse nele mesmo, e por mais que queira perceber, não consegue se desligar dos problemas do seu dia a dia e não notam o que está ao redor.
Enquanto seguia fui reparando nas pessoas. Do meu lado um casal discutia pelo atraso da mulher em se arrumar e que chegariam atrasados a algum encontro. Mais a frente um carro estacionado estava com as portas abertas e uma musica muito alta incomodava a quem passava enquanto jovens debatiam fervorosamente para onde eles iriam naquela noite. Precisavam exibir o novo som do carro.
Num ponto de ônibus um trabalhador reclamava sozinho do trabalho e do atraso do ônibus, pois ele estava perdendo o jogo na TV. “Deus, que problema” pensei.
Ninguém notara a metamorfose daquela tarde.
O mais engraçado é que somos iguais, estamos sempre mudando. Mudamos quando somos criança depois a difícil metamorfose da adolescência, mudamos quando somos adultos, casamos e quando envelhecemos voltamos a ser crianças. Mas se mal notamos nossas mudanças quem dirá a do mundo a nossa volta.
Balancei a cabeça afastando os pensamentos e voltei a andar.
Parei então um pouco mais a frente e voltei a mirar o céu. O sol terminava de se esconder atrás dos morros, e pouco tempo depois a lua já alta criava um caminho prateado nas escuras águas do mar.
Mais um ciclo daquele dia terminou. O dia deu lugar a noite. A metamorfose estava completa.



Um comentário:

  1. Gostei.Reflexão para muitas situções. Na minha visão, poderia ser o último dia de sol de um mortal.

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